20 julho 2012

Por Eduardo Galeano

Um sistema de desvínculos: para que os calados não se façam perguntões, para que os opinadores não se tornem em opinadores. Para que não se juntem os solitários, nem a alma junte seus pedaços.
O sistema divorcia a emoção do pensamento como divorcia o sexo do amor, a vida intima da vida publica, o passado do presente. Se o passado não tem nada para dizer ao presente, a historia pode permanecer adormecida, sem incomodar, no guarda-roupa onde o sistema guarda seus velhos disfarces.
O sistema esvazia nossa memória, ou enche a nossa memoria de LIXO, e assim nos ensina a repetir história em vez de faze-la. As tragédias se repetem como farsas, anunciava a célebre profecia. Mas entre nós, é pior: as tragédias se repetem como tragédias.
Na América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassas circulação. Os livros não precisam ser proibidos pela polícia: Os preços já os proíbem.